sábado, 23 de fevereiro de 2013

Disclaimer


Estive pensando. Em tudo. Na minha vida profissional, como trabalho, estudos, objetivos e planejamentos para o futuro, bem como na minha vida pessoal também.
Percebi que o último firmware instalado (Álison v22.013 se não me engano), apesar de ter ótimas e importantes mudanças, ainda possui muitos bugs e melhorias que não foram implementadas corretamente. Portanto, após algum tempo de análises e um árduo trabalho, decidi fazer um recall e... digamos "pausar" o projeto ÁlisonFreire por tempo indeterminado.
Mas não se preocupem, essa pausa será temporária. Em breve um novo firmware será instalado e o projeto voltará com força total.
Essa "pausa" na verdade é como uma manutenção, uma pausa para reforma. Como se uma loja estivesse fechando suas portas, para reabrir em seguida, com um ambiente completamente novo a seus clientes.
Não estou pausando completamente o projeto, continuarei trabalhando nele, porém de maneira privada/particular.
Ressalto aqui, que durante esse processo, estou pausando também minhas atividades nas redes sociais, tais como facebook, instagram, twitter, skynerd, etc.
Não vou sumir completamente, continuarei acessando todos os serviços, com uma frequência menor, claro.
Desde já, agradeço a compreensão de todos e ressalto que continuarei acessando frequentemente meus emails. Em caso de dúvidas, informações, reclamações ou qualquer outro assunto, por favor entre em contato pelo email:

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Classificados - Álison Freire

Acabei de abrir uma vaga para o meu mundo, um crachá de visitação parcial com acesso restrito mas é um começo, precisa-se que seja alguém de coragem, de amarguras e mistérios, alguém não tão diferente de meu grau de insanidade só para ter certeza de que mal nenhum fará, belo e impetuoso, pode ser destrutivo necessito sempre de algo a concertar além de detestar ser a única mal quebrada, aceito artistas e poetas, dispenso racionais em excesso pelo cansaço, realistas também não preencham a ficha!
Então se por acaso se interessar envie uma carta a Deus que ele redireciona a mim durante as orações no momento qual fico em silêncio esperando sua vontade, juro responder com maior rapidez e aventura possível.
Lizzy Albert.

Terminou de ler o anúncio. Perdido nos próprios pensamentos, questionou-se. Seu perfil se adequava à posição oferecida. A vida já havia ensinado muitas coisas, tirara-lhe muito, mais até do que gostava de admitir, somente uma pessoa de coragem como ele para suportar todas as amarguras, insanidades e incertezas de uma vida como a dele.
Riu, sem nenhum motivo aparente. Quando se convive com loucos apaixonados, não se pode duvidar ou questionar coisa alguma.
Parou abruptamente seus devaneios. Crachá de visitação parcial com acesso restrito. Pensou. Isso seria bom, quem sabe assim não quebrasse essa também.
Uma única lágrima escorreu, ao lembrar-se do ultimo.
Tentara um relacionamento com uma "amiga" da escola. Já fazia anos que isso ocorrera. Nunca se recuperara completamente, porém. Mas para falar a verdade, nunca se recuperara de nenhum dos "finais infelizes". Há muito percebera que "felizes para sempre" era só mais uma frase de efeito utilizada por pessoas que se diziam artistas. Gargalhou sozinho, ao imaginar as pobres garotinhas que cresciam sonhando com o dia em que um príncipe apareceria montado em seu cavalo branco, para com um "beijo de amor" despertá-las de seu eterno sonho.
Com sorte, essa suportaria que ele despejasse aquele caminhão de sentimentos que guardava dentro de si há anos. A fraca que conhecera na escola não suportou ao menos as três primeiras palavras.
É um choque para alguns, quando se diz "Eu te amo!" ou "estou apaixonado por ti!" mesmo sem ao menos conhecer a pessoa.
Para algumas pessoas, ao simples vislumbre de outra, já é possível enxergar o fundo da alma, parecendo se conhecerem desde sempre.
Infelizmente, nem todos são assim.
Despertou-se lembrando de outro pré-requisito. Aceito artistas e poetas. Achava-se qualificado para essa tarefa também. Já havia feito alguns desenhos. E qualquer um pode ser poeta.
Basta rimar meia dúzia de palavras.
Realistas também não preencham a ficha. Aqui o negocio complicava.
Desde sempre fora obrigado a ser realista. Não se chega para uma pessoa que não conhece e simplesmente 'despeja' tudo o que sente sobre ela, como se fosse obrigada a suportar todas as dores, alegrias e temores.
Recusou essa realidade por muitas vezes. Vezes em que a sinceridade o traiu.
Vezes em que simplesmente agiu como o coração mandou. Porém não obteve o resultado desejado.
Apos muito sofrer, enfim aprendeu a ser realista. Ou pelo menos fingir ser.
E agora, encontra assim, tudo o que sempre esperou cair do céu, mas para alcança-la, era necessário esquecer o que tanto sofreu para aprender.
Decidiu arriscar tudo o que possuía mesmo assim. Preencheu a ficha.

Prezado Deus,
Segue em anexo para apreciação e avaliação a minha ficha preenchida, uma vez que estou buscando uma nova oportunidade.
Acredito que a minha experiência possa vir a ser útil para a oportunidade de seu conhecimento.
Caso considere interessante, poderemos ter um contato pessoal, durante o qual poderei detalhar melhor o meu perfil, e o nível de desafio que estou buscando.
Desde já, agradeço a atenção e aguardo um pronunciamento.

Assinou, envelopou, selou.
Em seguida, saiu para entregar pessoalmente.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Filhos e você

Estive pensando na única coisa que realmente me deixaria triste, se eu não me casasse. Filhos. A sensação de que quando você morrer, ninguém ficará para 'te substituir', para continuar o que você começou, me deixa triste.. Talvez esse seja o único motivo que me fizesse sentir medo da morte, caso ela visse me buscar hoje.
Sempre amei crianças, me dou muito bem com elas. Dizem que eu seria um ótimo pai.
Andando pela rua, passei por uma menina, é, menina pois, independente da idade, tinha um rostinho de menina, andando com uma menininha de uns dois anos apenas, talvez menos.
Cabelinho castanho, liso, de franjinha, vestia uma camisetinha e saia. A coisa mais linda que vi..
Estava falando alguma coisa, com aquela boquinha redondinha e pequenina.
Olhei para ela, em seguida para sua mãe (falo mãe pois ouvi a mocinha chama-la de filha) e pensei:
Queria uma filha também. Poderia adotar uma menina de um ano mais ou menos..
Faria tudo por ela, compraria doces, brinquedos, levaria ao parque, rolaria no chão com ela, seria 'um ótimo pai'.
Mas aí, me lembrei que ela precisaria de uma mãe também, só um pai não seria suficiente, para quem ela correria, quando ficasse bravo? Pois isso faz parte da vida, vez ou outra precisamos ser duros.
Então, pensei:
A vida poderia ser menos difícil. Poderíamos fazer um 'contrato' em prol do filho. eu seria o pai, você seria a mãe, mas não precisaríamos ficar juntos, na verdade. Tudo seria pela criança. Faríamos tudo que um pai e uma mãe fazem, corríamos pelo parque juntos, deitaríamos na grama quando estivéssemos cansados, sorriríamos como bobos, quando a criança fizesse algo engraçado..
enfim, seríamos como uma 'família feliz'
.
Daí me lembrei, eu não suportaria te ter tão próxima, sabendo que estaria ali apenas pela criança, e não por mim.
É, o ser humano sabe ser egoísta, quando quer..

Morrendo

Estou assim, morrendo aos poucos, ultimamente, sabe?
Cada postagem nova que leio, cada imagem que compartilha..
Minha consciência grita, constantemente, para que eu acabe com isso, para que eu pare com essa infantilidade de me matar aos poucos.
De nada adianta, porém, sempre ignorei e continuo ignorando esses conselhos inúteis.
Quero que a lógica e a razão vão para o inferno..
Sou tolerante enquanto a tolerância serve aos meus propósitos..
mas na verdade, bem lá no fundo, sinto uma pontinha de ódio, sabe?
Não de você, ou de gostar de você..
Talvez esse ódio seja de mim mesmo, por me sentir tão perdido, depois que te conheci..
Eu, que sempre fui uma pessoa tão determinada, objetiva..
Sempre falei em fazer faculdade, um estágio na Pixar e trabalhar na fábrica dos sonhos.
Tudo isso se quebrou dentro de mim, toda essa determinação.
Eu quero, lá no fundo. Sei disso, posso sentir esse desejo. Só não consigo encontrar o caminho para o local onde ele está guardado.
Sinto falta da época em que eu não me preocupava com nada, além dos estudos, essa vida de adulto está me sufocando.
Queria poder fugir para a terra do nunca, voltar a não ter essas responsabilidades todas.
mas isso de nada valeria, se eu continuasse sem poder ouvir sua voz, ver seu sorriso, sentir seu abraço..
[...]
É, mas quem, além de mim mesmo, para se importar com essas divagações inúteis?

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Vampiros | No Mundo e Nos Livros


Ótimo texto que encontrei agora.. =)
~•~
Tá, já sei - você está de saco cheio de vampiros, certo? A ‘saga’ Crepúsculo acabou com todo e qualquer tesão que você tinha pelos morto-vivos dentuços e você preferiria uma estaca no coração a ler mais um artigo chato sobre eles. Mas o que você talvez não saiba é que todas as séries de vampiremos tragiromânticos que estão surgindo ultimamente são apenas o resultado de uma transformação constante em nossa sociedade. Vampiros são seres mitológicos, e mitos não são meras histórias - são alegorias, e a maneira como a ficção trata os vampiros revela como a sociedade que produziu aquela ficção trata aquilo que os vampiros realmente representam.
Não, não é sexo. Se você acha que vampiros representam sexo, você provavelmente está pensando demais em sexo, e eu sugiro que você vá encontrar um dos órgãos sexuais de sua preferência e aplique-o a seus orifícios ou protuberâncias anatômicas, conforme necessário. Ah, sim, claro, como Drácula pode não ser sobre sexo? O grande predador, que pega nossas mulheres e as transforma em viciadas como eles, etc. Sim, Drácula é sobre sexo, provavelmente porque Bram Stoker também estava precisando aplicar um órgão sexual a seus orifícios e protuberâncias, mas não conseguia porque Lord Byron tinha todos os órgãos sexuais da Inglaterra vitoriana com ele. Drácula fez vampiros serem sobre sexo - mas não é isso que eles realmente representam.
Não. Os vampiros são os ricos. Muito antes de Karl Marx crescer a sua barba contos medievais já eram alegorias para a luta de classes.
Vamos começar do começo. Os registros mais antigos de alguma coisa que pode ser talvez chamado de vampiro datam da Idade Média. Como naquela época não existia copyright esses registros eram muito díspares, mas vamos pensar no vampiro clássico, já que ele é a forma do mito que sobreviveu. O que representa o vampiro para o aldeão medieval carregador de merda? Ele sai à noite, porque ao contrário do aldeão, que trabalha o dia todo e dorme assim que o sol se põe, o vampiro não trabalha. Na verdade, o vampiro odeia tanto trabalhar que se ele não está na cama quando é hora do trabalho, ele morre! Mas apesar disso, o vampiro vive e vive bem, porque ele suga o sange dos habitantes. Uma alegoria óbvia até demais para um aldeão que tinha que pagar todas aquelas taxas com nomes malucos que a gente aprendeu na escola, como talha, corveia, banalidade e mão-morta, e que talvez tivesse que passar fome para dar o trigo para seu senhor fazer um canapé. Como resistir a essas criaturas? Ora, através da fé! O bom aldeão vai para o céu, mesmo que ele não saiba nada sobre religião porque as missas são todas em latim; quando o vampiro se confronta com os artefatos da fé, ele não tem escolha senão fugir, e o aldeão sobreviverá para morrer de fome, tifo ou diarreia crônica.
Certo, então não é tanto uma luta de classes quanto um massacre de classes. O vampiro medieval é um bicho papão: mortal, insidioso, raramente visto, mas cuja influência é sempre sentida. A Revolução Francesa ainda não havia começado, como seu pode lutar contra eles?
O próximo passo do mundo dos vampiros seria o já mencionado Stoker, que, sim, inventou a metafóra de vampirismo em sexualidade de uma maneira que somente um inglês do século XIX conseguiria fazer. Mas se a metáfora fosse apenas sexualidade, o vampiro poderia ser apenas um estudante tarado francês que estaria fadado a ser eventualmente intepretado por Johnny Depp. Por que o vampiro tem que ser um conde da Fimdomundânia? Existem muitas explicações aí, tais como o fato de que Drácula era um dos ‘romances de invasão’ que eram comuns na época e satisfaziam mais ou menos o mesmo nicho que Call of Duty atende para os EUA de hoje, mas eu vou ignorar essas outras explicações e encontrar uma que apoia minha tese, porque é assim que a CIÊNCIA funciona. 
Sendo o berço da revolução industrial, a Inglaterra foi o primeiro lugar em que surgiu uma classe social que estava entre os aristocratas decadentes e os peões comedores de terra - uma espécie de classe média, ha ha ha. Ao se tornar um dono de fábrica, ou entrar em qualquer fase do sistema de produção de badulaques manufaturados em massa, o inglês pôde utilizar a tecnologia para se tornar mais rico, ao invés de ter que depender na maneira mais tradicional até então de torcer para que a sua mãe fosse a mulher de um barão. Como esta nova classe burguesa se considerava como merecedora de sua riqueza - pois havia trabalhado por ela - ela antagonizava com a ideia da riqueza hereditária e dos títulos nobiliárquicos, que claro, ainda existiam na Inglaterra, mas provavelmente eram ainda mais marcantes nos rincões mais afastados da Europa, aonde a Revolução Industrial ainda não havia chegado. No final do romance, nossos bravos protagonistas se utilizam de trens e navios a vapor - tecnologia de ponta da época - para interceptar o maligno conde antes que ele possa voltar para seu antiquado castelo transilvano, finalmente conseguindo capturá-lo enquanto ele viajava em uma carruagem. Não sei se você considera isso uma metáfora sexual, mas eu normalmente não uso trens e navios a vapor na privacidade do quarto. A estaca no coração do Drácula representa o fim do domínio dos aristocratas jurássicos sobre o poder econômico, que passa para jovens procuradores que sabem usar o mundo moderno para aumentar suas fortunas.
Ainda assim, o romance de Stoker marcou as pegadas que todo o resto do mundo seguiu, com ênfase na teoria do Vampiro Sexual, que também é o nome da minha banda cover do Cabaret Voltaire. Como nos próximos anos a cultura mundial iria dançar a música dos Estados Unidos, e os Estados Unidos são um país fundado por pessoas que achavam que a religião opressiva onde eles moravam não era opressiva o suficiente, essa associação forçou os vampiros a se esconderem no gueto das noveletas de segunda categoria. E como nesses livros subtexto é nota de rodapé e simbolismo sexual é a plaquinha do banheiro, os vampiros passaram a representar o sexo através do sexo mesmo, enquanto que a metáfora socioeconômica desaparecia em uma sociedade calvinista que não queria insultar os pobre mega-ricos. Assim os vampiros metafóricos de Wall Street continuaram esperando que essa bobagem de sindicato perdesse a graça e se acabasse enquanto que os vampiros literais se reduziram a meros remakes de Stoker.
Blade, o personagem da Marvel, foi o primeiro ômen do retorno dos vampiros a seu simbolismo. Pareceria normal que as histórias de quadrinhos resgatassem isso, já que a metáfora sexual estava proibida pelo Comics Code Authority, mas eles pareciam pouco interessados em explorar as outras metáforas deste mito, talvez porque eles passaram a maior parte dos anos sessenta tentando chamar a atenção do público com o Super-Homem usando um chapéu estranho e perguntando por que o Super-Homem estaria usando um chapéu tão estranho. Nas histórias em quadrinhos, os vampiros apareciam completamente despidos de qualquer simbolismo e eram apenas mais um homem malvado voador de capa pro Homem-Aranha dar um soco, então talvez Blade, o vampiro bonzinho, seja apenas mais uma variação de cara superpoderoso com capa. Mas a ressurreição do vampiro estava por vir.
Graças a um processo misterioso e desconhecido chamado anos noventa, os vilões se tornavam anti-herois e os vampiros se aproveitaram disso em shows como Angel e Tru Blood. Angel, inclusive, é o ponto máximo do vampiro arrependido como bilionário filantropo: ele surge como um vilão, lentamente se revela como um campeão do bem, e até aceita trabalhar para uma companhia malvada em troca dos seus recursos! (Vejam crianças, não são os pobres ricaços que demitem milhares de pessoas em troca de uma economia de doze centavos por mês, são as companhias sem coração em que eles trabalham.) Enquanto isso acontecia, Bill Gates abandonava a Microsoft para ir salvar a África, Bono fazia a mesma coisa enquanto parava pra retocar a maquiagem, Steve Jobs virava o santo patrono das maçãs e dos hipsters, e todo mundo fica olhando Donald Trump e Roberto Justus despedirem panacas bem vestidos por não serem panacas e/ou bem vestidos o suficiente. O mundo de repente ama os ricos; estamos resignados com o fato de que eles existem e apenas esperamos que eles cumpram a noblesse oblige e façam o mundo melhor através de seus misteriosos caminhos de gente rica, ou se não fizerem que pelo menos apareçam em um reality show ou morram durante uma sessão de asfixia autoerótica pra gente ter sobre o que conversar no dia seguinte. É alguma surpresa que o pálido Edward Cullen tenha surgido nessa situação? Todo mundo já ama vampiros/ricaços; Crepúsculo meramente leva esse amor às vias de fato.
Ou pelo menos era assim, até pouco tempo. Porque hoje, ainda há pessoas nas ruas protestando contra o que elas chamam de um porcento. Contra o sistema que deixa os ricos mais ricos. Contra o poder que flui do dinheiro. Vampiros possuem o poder da sedução sobrenatural, mas mesmo esses poderes tem seus limites: o povo está cansado de ter o seu sangue sugado, e com tochas e forcados segue ao castelo do Drácula. E em breve, isso se reflitirá na cultura. Prepare-se para o fim do Blade e do Angel, para os vampiros retornando a seu papel original de velhos homens pálidos se reunindo em cabalas sombrias e usando seus inescrutáveis poderes para controlar todos os aspectos de nossas vidas, porque no fim das contas a arte imita a vida. E quando alguém disser que esse retorno dos vampiros ocorreu porque os fãs dos vampiros verdadeiros estavam cansados dos vampiros cobertos de glitter de Crepúsculo - bom, não estará completamente errado.

Vampiros | No Mundo e Nos Livros

domingo, 2 de setembro de 2012

Sinto falta da chuva. Ela nunca mais veio. Sempre que resolve aparecer, vem rapidinho, durante poucos minutos, tímida.
Tudo está mudado, diferente sabe?
Minha vida mudou muito, desde que a conheci, principalmente.
A rotina não está mais 'suportável'. Estou querendo jogar tudo pro alto, mudar.
fico pensando nela o tempo todo, imaginando o que estaria fazendo naquele momento, se estaria ouvindo alguma música, e qual se tivesse?
Se pensava em mim. Não com a mesma frequência que eu pensava nela, às vezes pelo menos.
Parei em um ponto no tempo, não consigo avançar, nem mesmo voltar.
Minhas defesas tentam, inutilmente, me libertar. Mas não quero ser liberto.
Aquela 'válvula de escape' que a gente tem, que se rompe quando a pressão aumenta muito, evitando que algo pior aconteça, há muito devia ter se rompido, porém estou remendando-a como posso, a cada momento, acrescentando um pouquinho mais de cola, forçando mais para que ela permaneça inalterada.
Estou brincando com o destino, minha sentença já está assinada, estava de aviso prévio, o próximo deslize seria fatal, não haveria mais volta. E ontem eu 'deslizei'. troquei minha última chance por nada. sei que não há mais volta. Minha vez já se passou, não voltará mais. Porém não consigo deixar a vida continuar, fico segurando o tempo, resistindo para continuar sentindo tudo isso.
As alegrias estão diminuindo gradualmente, e a dor, a tristeza estão só aumentando.
Chegará um momento que não poderei mais.
Continuarei lutando, até que esse momento chegue.
Espero ansioso pela chuva.
Só ela pode lavar minha alma, meu coração, limpar todas as incertezas, medos, impurezas.
Para que, talvez assim, eu possa resistir um pouco mais.
Não me arrependo do que sinto por ela. Também não me arrependo por minha sinceridade.
Se ela não sente por mim o mesmo que sinto por ela, QUE SE DANE!
O importante é que eu possa continuar aqui, sabendo notícias dela, ficando preocupado, quando ela comete uma imprudência, o que vem acontecendo com frequência ultimamente.
Enquanto eu puder lutar, enquanto tiver forças, continuarei aqui.
Me preocupando, discutindo com ela, como se fosse responsável por sua vida.
Continuarei me desculpando por ser tão superprotetor, mesmo sem ela me pedir.
Continuarei protestando, quando ela começa a fazer algo que possa prejudicá-la. Ameaçando fazer o mesmo comigo, para passarmos por aquilo juntos, e assim, não me preocupar mais com ela. Ameaçando me afastar para não saber mais notícias dela. Embora isso seja bom para ela.
Tudo seria tão mais fácil, se ela não precisasse se preocupar com alguém que fica protegendo-a, mesmo quando ela quer cometer algum erro.
Queria poder me afastar.
Queria querer me afastar, na verdade. Eu posso. apenas não quero. Quero continuar aqui, sofrendo por ela, enquanto tiver forças.

sábado, 1 de setembro de 2012

Sonhei com ela recentemente.
.
Estávamos juntos, deitados na grama próximo a um lago em um parque qualquer.
O sol estava se pondo, os poucos raios que restavam, banhavam sua pele clara, dando um tom dourado, como se ela fosse uma estátua de ouro. A mais bela estátua que já vi em minha vida.
sentei-me na grama, admirando-a. Estava com os olhos fechados, os braços abertos, como se tentando absorver o máximo de energia e calor daqueles tímidos raios remanescentes.
Não sei quanto tempo ficamos parados, naquela mesma posição.
Abrindo os olhos, ela me encontrou olhando-a, como se preso em um frenesi de sentimentos e emoções.
"que foi?" Perguntou com seu maravilhoso sorriso.
Demorei um tempo para responder.
Estava, ainda, tentando encontrar a saída daquele universo em que me encontrava.
"você é linda." Sussurrei-lhe. "a garota mais incrível que já conheci"
seu rosto enrubesceu, como sempre fazia ao ser elogiada. O que acontecia com frequência. O que ela fazia, não era comum para a idade.
Raramente vemos uma pessoa tão bela e talentosa, com tão pouca idade. Às vezes, chegava a pensar que ela não era real, que era só mais uma das personagens que eu criava mentalmente, no intuito de que se tornassem realidade.
E talvez o fosse de fato.
"preciso ir" falei, "espero que fique bem, e não cometa nenhuma imprudência"
"não vá, fique.. O sol está se pondo, quem me aquecera durante a noite?" Argumentou em uma voz chorosa.
"não posso, eu realmente preciso ir, isso tudo já está se complicando demais, preciso ir, enquanto ainda posso." Falei. "mas não se preocupe, você é forte, conseguirá sobreviver até que outro apareça para aquece-la."
"mas eu não quero outro, quero você." Admitiu em meio ao choro. "sei que não tenho sido a garota por quem se apaixonou, que estou diferente, mas não posso mudar isso, faz parte de quem sou."
Precisava agir rápido, cada segundo pesava imensamente, dilacerava-me. Logo, não conseguiria mais partir. "não se aflita, meu anjo. Não é nada com você, o problema sou eu. Sempre fui eu, na verdade."
beijei-a no rosto. O último beijo que daria a ela. "seja feliz, meu anjo querido." Falei, enquanto me levantava. "eu te amo e sempre te amarei". Parti, deixando-a aos cuidados da imensa e bela lua, que estava a banhar-lhe com sua confortante luz fria.
.
Aquele, seria o momento em que eu acordaria do sonho e ficaria tentando imaginar um final diferente. tentaria voltar a dormir, para continuar o mesmo sonho e voltar atrás.
Não por mim, mas por ela. Não era justo deixa-la, ainda mais daquela maneira..
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Só existe um problema.
Eu não tenho sonhos. Nunca.
Portanto, não havia maneiras de mudar aquele final.
Como dizem. O que está escrito, não pode ser apagado.
Depois de dizer alguma coisa, não há meios de se voltar atrás.
O próprio tempo não volta.
Então, devo me contentar com as boas lembranças daquele sonho que nunca aconteceu. Pois como decidi, em meio ao sonho, eu nunca mais a verei novamente.